Noticias da floresta tropical
Iracambi Centro de Pesquisas, situado na Mata Atântica mineira, está se tornando cada vez mais conhecida na nossa comunidade, já que estudantes da minha universidade (Wesleyana,) fazem estágios lá. Embora eu nunca tenha visitado o Centro, venho enviando estudantes a Iracambi há cerca de uma década. Conheci a co-fundadora Binka Le Breton e fiquei encantada quando aprendi sobre a ONG que ela dirige, junto ao marido dela, há mais de vinte anos. Os estudantes que voltam para casa depois de visitar Iracambi estão visivelmente transformados, embora muitas vezes não sabem explicar porque. Será que tem a ver com a magia da floresta tropical?
Finalmente as estrelas se alinharam, e eu mesma tive a oportunidade de fazer uma visita a Iracambi. Quando Robin, (natural do Quênia,) e Binka (britânica) compraram a fazenda onde a ONG está situada, já tinham carreiras exitosas – ele como economista do Banco Mundial e ela como concertista. Robin era formado em direito pela universidade de Oxford, e Binka em música clássica. Vieram ao Brasil para descobrir como funcionava a preservação da mata tropical. Será que é possivel salvá-la? A resposta é muito complexa.
Hoje em dia Iracambi hospeda pesquisadores e voluntários do mundo inteiro, vindos para estudar e se envolverem em todos os aspectos de ecologia de conservação enquanto moram nos cabines do Centro, curtindo a companhia agradável da equipe.
Simon, um britânico que dedicou nove meses para viajar enquanto decide sobre seu próximo emprego, se interessou no projeto da agrofloresta, e acompanha Luiz, coordenador do programa, nas suas idas ao campo. Super amigável e aberto, Simon é facil de ser encontrado na floresta, junto a Esther, Gaia, e Paola – três pesquisadoras da Universidade de Bologna. Quando instalam gravadores de som ou câmaras trap para documentar a biodiversidade, lá está Simon ajudando.
Luciana e Larissa cozinham a comida deliciosa. Fran e Deivid estão no comando do viveiro, Valdeir da manutenção, Dayana gerencia um programa fenomenal de educação ambiental, e a magnífica Gabi é o fio condutor que liga todo mundo a todas as oportunidades na sua qualidade de coordenadora de voluntários e pesquisas. Todas são pessoas verdadeiramente maravilhosas, com risos generosos, domínio do google tradutor e um amor genuino para seus hóspedes.
Depois de tomar café de manhã – “crepioca” (tapioca com ovos e geléia,) Robin me leva para seu famoso “Robintur.” Robin, que morou e trabalhou em cinco continentes, sabe interpretar a paisagem como ninguém. Me leva em seu Land Rover, mostra as plantações de eucalipto (a ser transformado em carvão vegetal para as siderurgias,) os cafezais, e as áreas de reflorestamento. Ele explica a complexidade de reflorestamento “Se quiser criar um corredor florestal para a fauna, tenho que trabalhar nas encostas para beneficiar a onça parda ou na baixada para os morcêgos? Se não posso fazer os dois, qual devo escolher?”
Robin também fala sobre a realidade econômica. “Qual o agricultor que vai ceder um metro quadrado de terra para plantar uma árvore nativa que vai precisar de cuidados e manutenção durante uma década enquanto crescer?” Depois me mostra um barranco com uma camada de terra vermelha. É um minério. Bauxita. É dificil conciliar mineração com reflorestamento.
Bauxita é o componente principal de alumínio, que usamos diariamente. Um mercado enorme. De onde vem? Das áreas ricas em minérios, principalmente no mundo em desenvolvimento.
Estudantes de Wesleyan chegarão em breve, todos apaixionados pela floresta e sua proteção. Mas, em casa todos usam produtos derivados de alumínio sem pensar duas vezes, impulsionando as mineradoras a destruir a floresta. A mineração de bauxita envolve caminhões enormes cavando a terra e levando-a até o centro de beneficiamento para separar o minério da terra. Depois da extração da bauxita, o solo é armazenado em barragens de terra que rompem de vez em quando, causando danos enormes. A bauxita é levada centenas de kilometros até São Paulo para ser transformada em alumínio e seus produtos derivados. O cafezal, do qual uma familia depende, o habitat florestal de fauna, a floresta restaurada com tanto amor – permanecem afetados para décadas.
Como diretora da aprendizagem intercultural, falo frequentemente do “posicionamento” e “voz.” Como universidade, Wesleyan está posicionada para poder assinar um memorando de entendimento com Iracambi, facilitando a busca de financiamento da parte deles. E as vozes de Iracambi? Nossos estudantes podem amplificá-los na medida que entendam o dilema das pessoas que habitam o interface entre conservação e desenvolvimento sustentável. De um lado um clamor mundial para se ter água limpa, ar puro e produtos florestais. Do outro, a demanda constante para os minérios que consumimos com uma velocidade assustadora. Depois de ter convivido com esta dilema, quais as escolhas de vida que os estudantes vão tomar? Os efeitos destas escolhas podem afetar diretamente pessoas que vivem a milhares de kilometros deles, mas também voltam como bumerangues a afetar eles mesmos. A perda da floresta e da terra agricultável causam mudanças climaticas e migração forçada impactando pessoas ao redor do mundo.
Que as vozes daquelas pessoas que vivem perto da terra nos guiem rumo nosso futuro coletivo.
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